A arte de bater com os punhos
A Barbearia Digital visitou um treino de boxe no Centro de Treinamento Alexandre Nogueira para conhecer um pouco mais a nobre arte. Confira!

Como quase todo esporte que envolve disputa física, o boxe não foge de alguns estereótipos comuns, especialmente os relacionados a violência, a visão do sangue nos ringues eventualmente faz com que as pessoas esqueçam que a luta representa um esporte antigo, com muita história pra contar. “As pessoas viam o sangue saindo e muita gente tinha medo de praticar pensando que isso sempre iria acontecer”, conta Dimitrio Coelho, de 42 anos, professor de boxe há 3.
Encontramos Dimitrio no Centro de Treinamento Alexandre Nogueira, em Fortaleza, onde dá aulas de boxe. Ele falou sobre como a formação de um professor de boxe é diferente, mais simples. “Tendo uma noção, tendo já praticado, tendo a técnica a ser passada, ele já pode fazer isso, mas existem as federações que vão lhe dar uma certificação para que você possa dar aula”, contou.
Por ser um esporte que respeita o oponente caído, o boxe é conhecido como “nobre arte”, ainda que não seja uma arte marcial, como conta o treinador, “ele não é uma arte de guerra, arte marcial é uma arte de guerra, ele não foi desenvolvido para guerras, ele foi desenvolvido para disputas pessoais em jogos”.
História
Jab, direto, cruzado e gancho são os golpes característicos do boxe, esporte que começou a ser praticado na Grécia e na Roma antigas, cerca de 1500 anos antes de cristo. A aparente violência dos golpes não impediu o esporte de figurar entre as categorias dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, onde ganhou as primeiras regras.
Já no século XIII, na Inglaterra, o boxe começou a crescer, atraindo mais espectadores, praticantes e lutadores. Foi o Marquês de Queensbury que viu que era preciso uma regulamentação, para que ficasse menos violento e mais parecido com um esporte.
Com as mudanças, as lutas passaram a ser feitas em ringues, os lutadores passaram a ser divididos em pesos e categorias, além de usarem luvas e protetores. O público passou a ser separado dos lutadores e os rounds tiveram seu tempo limitado a 3 minutos. Demorou alguns séculos, mas enfim o boxe ficava mais parecido com o que conhecemos hoje.
Vida saudável
Hoje em dia, no entanto, não é necessário ser um lutador para a praticar o boxe. Segundo o treinador, tem crescido a procura por parte daqueles que buscam apenas condicionamento físico e resistência por meio da prática de um esporte saudável.
Marcela Borges, de 34 anos, pratica boxe há 3 meses e conta que a principal motivação para começar a praticar o esporte foi justamente o desejo de melhorar seu condicionamento físico, e ela conta que já percebe as mudanças, “mudou em relação a resistência física, mudou em relação ao equilíbrio, mudou em relação a postura corporal, mudou tudo”, afirma.
No Brasil
Lá fora, o boxe já é um esporte consagrado, disso não restam dúvidas. O esporte é um dos que mais movimentam dinheiro em cada evento, como aconteceu na luta que ficou conhecida como entre Floyd Mayeather e Manny Pacquiao, onde os boxeadores dividiram uma bolsa de 300 milhões de dólares e as apostas alcançaram os 400 milhões.
No Brasil, a situação é diferente, faltando principalmente o incentivo a esse esporte. Segundo Dimitrio, “aqui no Brasil essas lutas não são tão compensatórias, a não ser que seja um amador que queira participar das olimpíadas, então ele treina com esse objetivo”.
Apesar das dificuldades, o boxe é um esporte que continua crescendo no Brasil e no mundo. Por aqui, ele tem alcançado mais visibilidade graças ao crescimento do MMA (Mixed Martial Arts), “com a prática do MMA e as pessoas vendo que o boxe é necessário, muita gente tem procurado o boxe para associar suas artes na prática do MMA”, conta o treinador.
Mas se engana quem pensa que a visibilidade desse esporte está restrita a nova geração ou ao caminho aberto pelo MMA, o Brasil tem seus próprios ídolos do boxe, como Popó, Maguila e Éder Jofre, o “galinho de ouro”.
Futuro
Não se pode negar, os lutadores brasileiros fizeram história no boxe mundial, Éder Jofre, por exemplo, é considerado por especialistas o maior peso-galo do boxe da era moderna. O país ainda tem, desde 1933, a Confederação Brasileira de Boxe, além de federações divididas por vários estados do território nacional.
Parecem ingredientes de uma receita de sucesso para expansão do esporte por aqui. E, embora o boxe tenha seu reconhecimento nas terras tupiniquins, ainda há muito caminho pela frente e espaço para crescer, ou quem sabe voltar a ser o que era nas décadas de 80 e 90, quando Maguila ou Popó lutavam.
Para Dimitrio, o que está faltando são campeonatos e publicidade como formas de incentivo. “Eu acredito que os campeonatos sejam bastante importantes, a volta do boxe para a TV aberta. Aqui no brasil falta isso, a propaganda, a publicidade em cima do esporte, mas a gente tem tido bastante avanço nessa área, tem crescido bastante”, conta.
- Um treino de boxe não são só os socos, antes disso, há todo o aquecimento e alongamento. (Créditos: Maggie Paiva)
- “Apesar de [o boxe] ser a prática de soco, você mexe com o corpo todo, você tem que ter movimentação de perna, de tronco, de quadril, de cabeça, então você tem um esporte completo”, conta Dimitrio. (Créditos: Maggie Paiva)
- Depois do aquecimento, chega a hora que muitos esperam: A hora de colocar as luvas.(Créditos: Maggie Paiva)
- “[No boxe], você tem disciplina, você tem determinação, você tem uma melhoria do seu desempenho como um todo”, Dimitrio. (Créditos: Maggie Paiva)
- E, claro, o professor participa de todo o treino. (Créditos: Maggie Paiva)
- Bater nos sacos é uma das formas de aperfeiçoar as técnicas dos golpes. (Créditos: Maggie Paiva)
- O boxe não tem o rigor disciplinar das artes marciais, mas procura se exigir a pontualidade e a higiene como formas de respeito para com o tatame e os colegas. (Créditos: Maggie Paiva)
- “[No boxe], as armas são apenas os punhos”,afirma o treinador. (Créditos: Maggie Paiva)
- O boxe proporciona uma grande perda calórica, são cerca de 900 calorias por treino.
- Na turma do professor Dimitrio Coelho, as mulheres e os homens treinam juntos, sem distinção. (Créditos: Maggie Paiva)
- Ao fim do treino, toda a turma se cumprimenta com “oss”, termo japonês, utilizado em artes marciais, que significa “respeito”.